Você já ouviu dizer que alguém tem “carne esponjosa”?
Acho que deve ter ouvido várias vezes, mas, você sabe o que é esta “carne esponjosa”?
É esperado que você não saiba mesmo, por dois motivos: A primeira é que popularmente, várias coisas diferentes são chamadas de “carne esponjosa”. E a segunda, é que na verdade, a “carne esponjosa” não existe!
Vamos lá, vou explicar.
Antes de mais nada, estas “doenças” todas são chamadas de “carne esponjosa”:
- Adenoides
- Cornetos nasais
- Desvio de septo
- Pólipos nasais
Adenoides
As “adenoides” são vegetações (ou seja, um tipo de tecido esparramado), que fica entre o nariz e a garganta. Em crianças é muito comum a prevalência destes tecidos, e também não é raro ele estar aumentado. Um estudo grande e multicêntrico fez um levantamento sobre a porcentagem de crianças que na primeira infância tem aumento de adenoides e chegou-se à conclusão de que 34,46% têm as adenoides aumentadas1. A adenoide em si, não é um problema, pois é algo normal, que existe em todas as crianças. O problema existe quando acontecem, principalmente, duas situações: A primeira é quando a adenoide é muito grande e interrompe a passagem de ar do nariz para a garganta. Nesta situação as crianças apresentam roncos noturnos, apneia noturna (a parada temporária da respiração), que geralmente assusta muito os pais. Além de causar respiração oral crônica, e alterações nas faces, dentes e boca, devido à respiração oral. A segunda é quando se cria um biofilme (uma camada de bactérias, como se fossem um coral) na adenoide, ou seja, cria-se uma possibilidade de infecção crônica nestas adenoides, que podem fazer com que a pessoa (na imensa maioria dos casos crianças menores de seis anos de idade) apresentem sintomas que lembram sinusite de repetição, e até mesmo infecções de ouvido de repetição. Isto mesmo, problemas crônicos na adenoide, podem causar problemas crônicos nos ouvidos. Graças à uma comunicação entre o ouvido e o nariz, por um canal chamado “tuba auditiva” podem subir secreções com bactérias até o ouvido. Nestas duas situações acimas, a chance de se precisar remover as adenoides por via cirúrgica é grande, pois geralmente os tratamentos não funcionam, ou quando funcionam são por pouco tempo. Joao Renato Swensson - Doctoralia.com.brCornetos Nasais
Os cornetos nasais são estruturas que tendem a ser cilíndricas, e parecem “pequenas garrafas pets” deitadas dentro de nossa fossa nasal. Os cornetos nasais têm a capacidade de aumentar e diminuir de tamanho em vários momentos do dia. Isto acontece pelo fato dos cornetos terem um tecido esponjoso em seu interior, que quando aumenta o fluxo de sangue para dentro dele, ele se torna maior, “mais inchado”. Mas porque o nosso corpo mandaria mais sangue para ele, em determinados momentos do dia para “inchá-lo”? Vou explicar: O nariz é a porta de entrada do ar para nosso corpo (deveria ser para todos, mas algumas pessoas, que ainda não passaram com otorrinolaringologistas, ainda respiram pela boca), então é obrigação do nariz preparar o ar para entrar em nossos pulmões. Com isto o nariz tem as seguintes funções:- Aquecer o ar
- Umidificar o ar
- Limpar o ar
- Filtrar o ar
Desvio de Septo Nasal
O septo nasal é uma estrutura que divide as duas fossas nasais (a direita e a esquerda). Ele tem cartilagem na primeira metade, e na segunda metade ele é formado por osso. Alguns estudos mostram que 76% das pessoas com queixa de obstrução nasal têm desvio de septo nasal2. Muitas pessoas confundem o septo nasal com o dorso nasal, e acreditam que um problema estético no dorso nasal é devido desvio do septo. Na verdade alguns problemas estéticos nasais podem estar relacionados com o septo sim, como uma “laterorrinia” que é o desvio do nariz para um lado, mas alguns outros, como “a giba óssea nasal” não têm relação. A cirurgia da correção do desvio do septo nasal chama-se septoplastia, ou rinosseptoplastia, a rinoplastia pura não necessita necessariamente de manipulação do septo nasal. Mas é muito raro se realizar rinoplastia sem mexer, nem que seja muito pouco, no septo nasal. Este tipo de cirurgia eu faço em ambiente cirúrgico, sob anestesia geral. Na grande maioria das vezes o paciente opera pela manhã e tem alta no mesmo dia, no final da tarde e às vezes início da noite. É raro deixarmos o famoso “tampão nasal” no paciente, nos dias atuais, com técnicas cirúrgicas por vídeo, materiais hemostáticos (que controlam o sangramento no pós-operatório) mais modernos, e instrumentos cirúrgicos mais modernos. O nível de dor pós-operatória é muito baixo na grande maioria das vezes, e o grau de satisfação dos pacientes costuma ser muito grande. E grande parte dos pacientes melhoram bastante o olfato, depois de um procedimento de septoplastia ou rinosseptoplastia. Joao Renato Swensson - Doctoralia.com.brPólipos Nasais
Os pólipos nasais são vegetações, ou seja, um tecido, que cresce dentro do nariz, em formato de cachos. Não se sabe, ao certo, qual a origem deles, mas muitos estudos estão sendo feitos, e muito se tem descoberto entre alterações imunológicas (relacionadas à defesa) dos pacientes, e a presença de pólipos nasais3. Na grande maioria das vezes os pólipos são benignos, mas como eles vão aumentando de tamanho e ocupando espaços nas fossas nasais, e nos seios da face, eles costumam causar obstrução nasal crônica e rinossinusite de repetição. Quando chega a este ponto, é necessário um procedimento cirúrgico por via endoscópica, na qual se opera o paciente através de uma câmera de vídeo, por dentro do nariz. Através de equipamentos muito delicados e precisos, e com resultados muito bons no pós-operatório imediato e no curto prazo. Infelizmente uma parte dos pacientes acabam apresentando recorrência dos quadros dos pólipos. E comumente é necessário nova intervenção cirúrgica alguns anos após o primeiro procedimento. Hoje estão em estudos muito imunobiológicos (medicações que atuam diretamente na produção de defesa dos pacientes), com resultados promissores para polipose nasal, em um futuro relativamente próximo. Joao Renato Swensson - Doctoralia.com.brReferência Bibliográfica
- Lara Pereira, John Monyror, Fabiana T. Almeida, Fernanda R. Almeida, Eliete Guerra, Carlos Flores-Mir, Camila Pachêco-Pereira, Prevalence of adenoid hypertrophy: A systematic review and meta-analysis, Sleep Medicine Reviews, Volume 38, 2018, Pages 101-112, ISSN 1087-0792
- Clark DW, Del Signore AG, Raithatha R, Senior BA. Nasal Airway Obstruction: Prevalence and Anatomic Contributors. Ear, Nose & Throat Journal. 2018;97(6):173-176. doi:10.1177/014556131809700615; Konstantinos Valsamidis, Athanasia Printza, Konstantinos Titelis, Jannis Constantinidis, Stefanos Triaridis; Olfaction and quality of life in patients with nasal septal deviation treated with septoplasty; American Journal of Otolaryngology; Volume 40, Issue 5; 2019; Pages 747-754; ISSN 0196-0709;
- Yao, Y, Chen, C-L, Yu, D, Liu, Z. Roles of follicular helper and regulatory T cells in allergic diseases and allergen immunotherapy. Allergy. 2021; 76: 456– 470.